“Porque só aquele que se reconhece vulnerável é capaz de uma
acção solidária. Pois comovermo-nos («movermo-nos com»), compadecermo-nos («padecermo-nos
com») de quem está caído à beira do caminho são atitudes de quem sabe
reconhecer no outro a sua própria imagem, mescla de terra e tesouro, e por isso
não a rejeita. Pelo contrário, ama-a, aproxima-se dela e, sem o procurar,
descobre que as feridas de cura no irmão são unguento para as suas. A compaixão
converte-se em comunhão em ponte que aproxima e estreita laços. Nem os
salteadores nem os que passam ao largo do caído têm consciência do seu tesouro
e do seu barro. Por isso, os primeiros não valorizam a vida do outro e atrevem-se
a abandoná-lo quase morto. Se não valorizam a própria vida, como podem reconhecer
como um tesouro a vida dos demais? Os
que passam ao largo, por sua vez, valorizam a sua vida, mas apenas
parcialmente, atreve-se a olhar apenas uma parte, aquela que creem ser valiosa:
sabem-se eleitos e amados por Deus (curiosamente, na parábola, são duas
personagens religiosas do tempo de Jesus, um levita e um sacerdote) mas não se
atrevem a reconhecer-se argila, barro frágil. Por isso o caído lhes mete medo e
não se atrevem a reconhecê-lo – como podem reconhecer o barro dos outros se não
aceitam o próprio?”
Bergoglio, J. (2013). O
verdadeiro poder é servir. 3.ª edição, Nascente, Braga. - “Carta aos
catequistas. Agosto de 2003”
Imagem: http://www.paroquiadivino.org.br/index.php/o-bom-samaritano/ |
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