Autor: Miguel Metelo de Seixas
- "A revolução republicana vitoriosa a 5 de Outubro de 1910 levou à constituição de um governo provisório chefiado por Teófilo Braga. Entre uma série de medidas que se prendiam com a representação do Estado, o governo provisório preocupou-se, como era natural, com a questão da manutenção ou alteração do seu símbolo supremo: a bandeira nacional."
- "(...) o governo provisório nomeou, logo dez dias após o triunfo da revolução, uma comissão para as resolver. (...) «considerando que a bandeira é o símbolo da Pátria e importando definir e resolver sobre a representação moral da nacionalidade»; e compunha-se a comissão de cinco membros: o escritor Abel Botelho, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro, o tenente António Ladislau Parreira, o capitão José Afonso de Palla e o jornalista João Chagas, todos eles ligados pelo denominador comum de serem indefectíveis republicanos .
- «O branco não há dúvida que deve, em todas as hipóteses, ter representação na nova bandeira»; já quanto ao azul, a comissão considerava que a sua inclusão na bandeira se havia originado numa referência ao culto mariano (em especial a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do reino), e que, embora fosse uma cor aprazível, revelava-se demasiado branda e até representativa de uma certa perda de energia do povo português, pelo que devia ser banida da nova bandeira porquanto «para nós, histórica e moralmente, o azul é uma cor condenada».
- "(...) vermelho: associava-o a uma cor presente na bandeira portuguesa desde D. João II e por isso ligada à epopeia gloriosa dos Descobrimentos, classificando-o como «cor combativa, quente, viril [...], cantante, ardente, alegre»,
- "(...) verde, os relatores assinalavam, antes de mais, a sua condição de cor positivista, isto é, definida por Auguste Comte como cor do futuro, e por isso adaptada pelo positivismo e pelas instituições que, no século XIX, mais pugnavam por essa filosofia política, como a maçonaria"
- "(...) D. Pedro na sua Crónica Geral de Espanha de 1344, referindo-se à Batalha de Ourique: «E, depois que os reis foram vencidos, como dissemos, o rei Dom Afonso de Portugal, por memória daquele bom acontecimento que Deus lhe dera, pôs no seu pendão cinco escudos por aqueles cinco reis, e pô-los em cruz em lembrança da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. E pôs em cada escudo trinta dinheiros por memória daqueles trinta dinheiros por que Judas vendeu Jesus Cristo (...)"
- "A revolução republicana de 1910 poderia ter significado uma ruptura neste entendimento centenário de continuidade da simbólica nacional. E foi-o, em certa medida. Quando decretou a abolição da bandeira azul e branca, numa decisão amplamente contestada mesmo dentro das fileiras republicanas, o governo provisório (depois secundado pela assembleia constituinte) substituiu-a por uma bandeira que protagonizava, pela primeira vez em séculos de história, uma ruptura declarada com a tradição, uma vez que ostentava as cores verde e vermelha, usadas pelas forças, instituições e ideologias que haviam estado na base do movimento revolucionário. Mas este rompimento brutal via-se atenuado pela conservação do escudo com as armas nacionais, sobreposto à esfera armilar, que preenchia a linha divisória da bandeira, formando, outrossim, o emblema do Estado."
Por António Tadeu Costa
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