quinta-feira, 2 de setembro de 2021

S. Paulo e as mulheres submissas - parte 1

Seguindo a lógica das leituras dominicais e feriais da Santa Igreja Católica Apostólica, no vigésimo primeiro Domingo do Tempo Comum (Ano B) uma das leituras, a segunda, era a da Epístola de S. Paulo aos Efésios.

Na Santa Missa encontrava-me em Viana do Castelo e num espaço dito campal (fora da igreja) pois estava imbuído nas festividades em honra da Sra. da Agonia. Ouvi esta leitura (gosto muito das Cartas de S. Paulo e habitualmente sou um dos leitores na missa com a tarefa de as "ler" para a assembleia), mas como dizia naquele momento esbocei um sorriso (interior) pois é daqueles assuntos que várias vezes falava com o meu saudoso Padre amigo José Vicente Martins SJ, naquela passagem inicial da leitura das mulheres serem submissas aos maridos. Muito brincávamos com a temática.

Acontece que um outro pensamento me atravessou a análise tendo dito para mim mesmo: esta leitura ouvida por quem não percebe nada da Missão da Igreja iria entendê-la como infame.

Então não é que foi isso que aconteceu!

Na televisão (TVI 24) tive a oportunidade de seguir um debate sobre esta (não) controvérsia social e que envolveu um Padre Jesuíta e dois comentadores. Um momento televisivo que apenas evidenciou que muitos comentadores falam de assuntos que não sabem, não estudam porque dá  trabalho seguindo a narrativa das redes sociais.

Meu (nosso) querido S. Paulo foste e és um homem extraordinário e as tuas palavras são uma catequese intemporal. Deixo, por isso, um acesso à reflexão sobre esta leitura, um grande esclarecimento da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus de que transcrevo a seguinte passagem:

O compromisso com Jesus e com a proposta de vida nova que Ele veio apresentar mexe com a totalidade da vida do homem e tem consequências em todos os níveis da existência, nomeadamente ao nível da relação familiar. Para o seguidor de Jesus, o espaço da relação familiar tem de ser também o lugar onde se manifestam os valores de Jesus, os valores do Reino. Com a sua partilha de amor, com a sua união, com a sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e reflexo da união de Cristo com a sua Igreja. “Os esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de afecto e de pensamento e com mútua santidade de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem, pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com a sua morte e ressurreição” (Gaudium et Spes, 52).

¨ Para Paulo, o amor que une o marido e a esposa deve ser um amor como o de Cristo pela sua Igreja. Desse amor devem, portanto, estar ausentes quaisquer sinais de egoísmo, de prepotência, de exploração, de injustiça… Deve ser um amor que se faz doação total ao outro, que é paciente, que não é arrogante nem orgulhoso, que compreende os erros e as falhas dos outro, que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (cf. 1 Cor 13,4-7).

¨ Para Paulo, o amor que une a esposa e o marido deve ser um amor que se faz serviço simples e humilde. Não se trata de exigir submissão de um a outro, mas trata-se de pedir que os crentes manifestem total disponibilidade para servir e para dar a vida, sem esperar nada em troca. Trata-se de seguir o exemplo de Cristo que não veio para afirmar a sua superioridade e para ser servido, mas para servir e dar vida. O matrimónio cristão não pode tornar-se uma competição para ver quem tem mais direitos ou mais obrigações, mas uma comunhão de vida de pessoas que, a exemplo de Cristo, fazem da sua existência uma partilha e um serviço a todos os irmãos que caminham ao seu lado.

¨ Paulo utiliza, neste texto, a propósito das mulheres, uma palavra que não devemos absolutizar: “submissão”. Esta palavra deve ser entendida no contexto sócio-cultural da época, em que o marido era considerado a referência fundamental da ordem familiar. É claro que, nos dias de hoje, Paulo não teria usado este termo para falar da relação da esposa com o marido. A afirmação de Paulo não pode servir para fundamentar qualquer tipo de discriminação contra as mulheres… Aliás, Paulo dirá, noutras circunstâncias, que “não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus” (Gal 3,28).


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