O que a seguir transcrevo resulta de uma gravação que realizei na passada semana, dia 29 de outubro de 2022, aquando de uma peregrinação paroquial da Igreja da Sagrada Família (Laranjeiro/Miratejo - Seixal - Portugal) a Vila Viçosa. Por isso a responsabilidade da transcrição é minha e em nada compromete o orador, Sr. Padre André Pinto. Fica para memória futura e/ou reflexão/pesquisa.
Seis pontos de reflexão:
- Portugal nasce em Guimarães à sombra da Senhora da Oliveira - berço da nacionalidade.
- Portugal é abençoado e conduzido por Santa Maria de Braga; por isso sabemos importância da cidade de Braga na História de Portugal
- No terceiro ponto Portugal cresce conduzido pela Santa Maria de Alcobaça.
- No quarto ponto Portugal afirma a sua independência perante Castela mediante a proteção da Nossa Senhora da Vitória.
- Portugal expande-se pelo mundo estendendo o seu império por intercessão de Santa Maria de Belém no Restelo.
- No último ponto Portugal restaura a sua independência, protegido pelo manto da Senhora da Conceição de Vila Viçosa. A importância do manto que as rainhas de Portugal ofereceram a Nossa Senhora são num total de 15.
O que mais tarde veio a ser Portugal, um território entre o Douro e o Vouga, aparece pela primeira vez designado como Terra de Santa Maria, no século X, e mais tarde com as conquistas dos nossos reis, sabemos que todo o país passou a ser denominado pelo nome de Terra de Santa Maria.
Sempre houve devoção a Nossa Senhora. O nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, que segundo a tradição nasceu em Guimarães, em 1109, filho de D. Henrique da Borgonha e de D. Teresa de Leão, os condes portucalenses, e daí a ligação à Senhora da Oliveira. Sabemos que D. Afonso Henriques funda o reino de Portugal em 1143, mas só mais tarde foi reconhecido como Rei de Portugal como reino independente pelo Papa Alexandre III, em 1179, depois de o primeiro Rei ter jurado obediência e fidelidade à Igreja.
Como se sabe eram os papas que reconheciam os reinos e os reis, ninguém era rei sem a certificação do papa. A fórmula usada pelos papas aquando da sua coroação até ao Papa Paulo VI, pois foi o último papa a ser coroado com a tiara papal, o cardeal antes de pôr a coroa na cabeça do papa dizia estas palavras: “recebe a tiara adornada com as três coroas, e sabe que és o pai dos príncipes e dos reis, que tu és o regente do mundo, o vigário na Terra de Nosso Senhor Jesus Cristo ao qual seja dada honra e glória pelos séculos dos séculos”.
Era o Papa, portanto, que reconhecia o que era um país e o seu chefe do estado, o Rei. Assim, apenas em 1179, Portugal é reconhecido como reino pelo Papa. Desde sempre o nosso primeiro Rei se confiou a Nossa Senhora, bem como todos os outros, e já antes, em 1128, D. Afonso Henriques fez algumas concessões à Catedral de Braga. A expressão popular de ‘que é mais velho que a Sé de Braga’, refere que Braga é anterior à nacionalidade - Santa Maria Bracarense, cuja imagem se encontra atualmente na Sé de Braga no trono do arcebispo. As benesses do primeiro rei a Braga são no sentido de pedir a proteção de Nossa Senhora e para que ela o auxiliasse nas suas conquistas aos mouros. Temos a conquista de Santarém (cidade), de grande importância a 15 de março de 1147, e quatro meses depois era conquistada a cidade de Lisboa. O nosso primeiro rei era primo de S. Bernardo de Claraval, e assim foi fundado o Mosteiro de Alcobaça (Mosteiro de Cister) dedicado a Santa Maria. Portugal vai crescendo de norte para sul, chegando à conquista do Algarve (um sonho) em 1249, no reinado de D. Afonso III, quinto rei de Portugal.
Foram sempre assim as conquistas de Portugal, onde se implantava a bandeira do reino de Portugal, era logo erguida a Cruz (Cruzeiro) e edificada a Igreja e por norma em honra de Nossa Senhora.
Os anos passam nesta Terra de Santa Maria e Portugal vai-se consolidando.
Chega, então, a crise da independência com a morte de D. Fernando, terminando a primeira dinastia, começando a segunda com D. João I (Mestre de Avis) em 1385, e é aclamado Rei de Portugal com o auxílio do S. Nuno de Santa Maria (que mandou construir esta Igreja da Nossa Senhora da Conceição em Vila Viçosa), Nuno Álvares Pereira, que depois é nomeado Condestável do Rei, ou seja, chefe das tropas do reino.
Depois da Batalha de Aljubarrota é erguido, em honra de Nossa Senhora, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Mosteiro da Batalha), como agradecimento da vitória na referida batalha.
Portugal consolida a sua independência e inicia a sua odisseia no mar já com D. Manuel I, atingindo Portugal o seu apogeu, com as caravelas a levar Portugal. Não sabemos ao certo o ano da edificação da Ermida de Santa Maria de Belém, que deu lugar ao atual Mosteiro dos Jerónimos que começou por ser uma capelinha e se transformou num grande monumento, mas certamente esta capelinha foi mandada construir pelo Rei D. Manuel I. Sabemos que a invocação de Nossa Senhora como Santa Maria de Belém foi de máxima importância para os homens dos Descobrimentos, pois eles sabiam que ao partirem nas caravelas também sabiam que dificilmente voltariam a Portugal.
Condensados os primeiros séculos da História de Portugal.
A Imaculada Conceição. Dizemos Nossa Senhora da Imaculada Conceição pois Conceição quer dizer concepção. A Igreja acredita que Nossa Senhora por ser Mãe de Jesus é uma mulher diferente, não na sua humanidade mas na sua criação. Sabemos que Nossa Senhora foi concebida no ventre da sua mãe, Santa Ana, sem qualquer pecado. Ao contrário de nós que somos descendentes de Adão e Eva e mesmo sendo descendente destes primeiros pais, Nossa Senhora não tem pecado original, por desígnio e milagre de Deus foi preservada do pecado. Jamais pecou, jamais em Nossa Senhora houve um pensamento, um olhar, um sentimento pecaminoso.
Nós, e segundo a tradição, que o nosso primeiro, D. Afonso Henriques, mandou celebrar a festa da Imaculada Conceição a 8 de dezembro de 1147, em Lisboa, depois da conquista aos mouros. Mas será pois não existem certezas. O que sabemos por meio do primeiro documento oficial que se conhece que refere a Celebração da Imaculada Conceição é do século XIV, assinada pelo Bispo de Coimbra em 1320. Portanto, terá sido em Coimbra, que de forma oficial o Rei de Portugal terá celebrado a festa da Imaculada Conceição, da Nossa Senhora sem pecado.
No século XV coube então a esta casa em Vila Viçosa a honra de ter sido a primeira localidade da Península Ibérica com uma Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que foi mandada construir por S. Nuno de Santa Maria (D. Nuno Álvares Pereira).
Foi D. João I que concedeu o senhorio desta Vila a S. Nuno e posteriormente, em 1422, passou ao seu neto, D. Fernando, pertencendo Vila Viçosa à Casa de Bragança. Esta Vila com os Duques de Bragança vai atingir uma riqueza, com o seu património, como podemos observar pois sendo uma terra tão pequenina no Alentejo tem um Paço e ganha grande importância por pertencer à Casa de Bragança.
No século XVII, Portugal é consagrado a Nossa Senhora da Conceição para sempre.
A Universidade de Coimbra, em 1617, manifesta ao Papa a sua crença, a sua fé, na concepção Imaculada de Maria, e é aqui que o Bispo, D. Lopo de Sequeira, em 1634, que congrega todo o clero da cidade e jura defender a Conceição de Nossa Senhora (concebida sem pecado). Depois o Bispo de Braga, em 1637, D. Sebastião de Matos de Noronha, prestou juramento público de defender a Conceição sem mancha de pecado.
Nós achamos que isto são coisas só da Igreja, mas temos que pensar que a vida de um país, nesta época, rodava exclusivamente em torno da Igreja. Dizendo por outras palavras, era a Igreja que manda nisto tudo.
Portanto temos estes marcos e a importância de Bispos e Arcebispos que prometem defender a Conceição de Nossa Senhora.
Sobe ao trono o Duque de Bragança, que veio a ser o Rei D. João IV, no dia 1 de dezembro de 1640, depois de sessenta anos em que Portugal esteve sob o domínio espanhol.
A 25 de março de 1641 - nós passámos junto à estátua, no paço, com o Rei a cavalo a caminho de Lisboa onde foi aclamado; parece que ele não tinha muita vontade de ser Rei de Portugal e terá sido lá da varanda onde se encontrava a Rainha que D. Luísa de Gusmão que terá dito, na condição de vir a ser Rainha: vai, pois mais vale ser Rainha por um dia do que duquesa por toda a vida - D. João IV parte para Lisboa sendo aclamado Rei.
Em 1646 dá-se a grande importância deste Santuário. O Rei proclama a Capela dos Paços da Ribeira no Paço até ao terramoto de 1755, proclama em Lisboa a Nossa Senhora da Conceição, com a sua imagem de Vila Viçosa (a atual), passava a ser a Padroeira do Reino e jura defender a sua Conceição Imaculada tendo feito um juramento, sendo único na história de uma nação, uma vez que depois de 1647 os Reis de Portugal nunca mais usariam a Coroa Real na cabeça.
Nós sabemos que um país tem um conjunto de símbolos nacionais: a bandeira, o hino e nas monarquias a coroa e o ceptro. A partir de então o Rei nunca mais usou a coroa na cabeça e obrigou a todos os seus descendentes que nunca mais usassem a coroa na cabeça, porque diante de Nossa Senhora nenhum homem ou mulher era digno de ter a coroa na cabeça. Temos que ver estes acontecimentos na época - a coroa era o símbolo de poder e da autoridade real. A coroa passou a ser pertença de Nossa Senhora.
Então em todas as comunidades e atos oficiais a Coroa Portuguesa (onde atualmente pode ser vista uma réplica, não a original, no Palácio Nacional da Ajuda) ficava sempre pousada numa almofada ao lado da entidade reinante. Esta situação é única no mundo. Há uma tradição na Hungria que diz que o Rei Santo Estevão terá oferecido, no ano 1000, a coroa a Nossa Senhora para ser a Rainha da Hungria mas é meia-verdade.
Reparemos bem que seguindo os Reis o Povo crê na sua Fé na Conceição Imaculada da Nossa Senhora, pois o dogma da Imaculada Conceição só viria a ser proclamado 208 anos depois, no dia 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX. Portugal foi, e é, a maior dedicação de amor à Nossa Senhora da Conceição. As cartas que o Papa recebeu dos bispos de Portugal eram todas favoráveis à proclamação do dogma.
O que é um dogma?... O dogma é uma verdade absoluta. Nós na Igreja temos vários dogmas, são verdades absolutas que nós como católicos não pomos em causa, submetemo-nos, aderindo, à verdade suprema do dogma que Deus manifestou à sua Igreja. É o Papa, na sua autoridade de Chefe da Igreja, que proclama o dogma. O dogma de Fé, enquanto católicos, temos de aceitar.
Ainda o Papa não tinha proclamado este dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora e nós já acreditávamos que Nossa Senhora era Imaculada desde a sua concepção. Neste dia, a 8 de dezembro de 1854, em Portugal à hora da proclamação do dogma pelo Papa lida na Basílica de S. Pedro em Roma, todos os sinos das igrejas e capelas em Portugal tocaram a repique de Festa por ordem do Rei.
Portugal era um país católico, fiel ao Papa, e pediu à Santa Sé que reconhecesse a Imaculada Conceição como sua padroeira. Para termos uma ideia, na Universidade de Coimbra, ninguém tinha direito ao diploma, ninguém terminava o curso, se antes não fizesse juramento público de defender a Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Esta prática apenas terminou recentemente a seguir ao 25 de abril de 1974.
Apenas neste Santuário há o privilégio do sacerdote vestir os paramentos azuis em honra de Nossa Senhora, o seu manto azul. Mais tarde, em 1819 no reinado de D. João VI, funda a Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, formada por nobres e clérigos, para que defendessem a Imaculada Conceição.
Portanto Portugal tem esta História e é impensável separá-la da devoção dos portugueses a Nossa Senhora.
O aparecimento em Fátima de Nossa Senhora, a 13 de maio de 1917, a três crianças analfabetas torna universal a sua mensagem. A importância de Nossa Senhora em Portugal atravessa a nobreza, clero, pessoas letradas e abraça três crianças do povo humilde e simples com a mensagem de confiar a Portugal uma missão muito especial. Olhando para trás vemos que Nossa Senhora foi preparando o Seu aparecimento em Fátima. Nos desígnios de Deus estava Fátima e isto é único no mundo.
E porque hoje é dia de S. Nuno de Santa Maria.
Por, António Tadeu Costa
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