domingo, 30 de dezembro de 2018

Mãe coragem... Obrigado!

Passou um mês. O destino entendeu que a minha mãe partisse para o Pai no mesmo dia que, volvidos 24 anos, o seu marido também nos deixasse. O dia 30 de novembro ligou na data aquilo que eles pretenderam quando se uniram no sacramento do matrimónio. Juraram fidelidade, amor e fé cristã. Viveram assim e educaram os seus filhos nesta linha e sempre em família.

Ele, José, carpinteiro de profissão conheceu a minha mãe, Aurora, num acaso de vida. Enquanto media umas tábuas no corredor exterior de acesso à oficina, sentiu uns pingos de água caírem-lhe nas costas. Olhando para cima viu a minha mãe, empregada doméstica, e disse-lhe: “a menina deixou cair uns pingos de água nas minhas costas” que mereceu a seguinte resposta: “desculpe Sr. José mas tinha quase a certeza que a roupa estava escorrida para poder ser estendida”.

Esta foi a história que sempre nos contaram se bem que o meu pai tenha forçado, é assim que o entendo, o momento. Fez muito bem.

Uma vida semeada com tenacidade e muitas dificuldades financeiras, mas com honestidade e trabalho conseguiram gerar dois filhos, um casal como pediram no dia do seu matrimónio a Nossa Senhora de Fátima.

Em memória da minha mãe, pois já escrevi neste espaço sobre o meu pai, de referir que bem cedo, ainda criança, rumou de Felgueiras para casa de uns familiares em Lisboa. Uma vida de trabalho, quase escravo e sem direito a completar a 4.ª classe. Deambulou por vários ofícios até que na qualidade de empregada doméstica conheceu o meu pai na Rua Cidade Cardiff em Lisboa.

Com ele viveu a sua independência e felicidade. Edificaram uma família num bairro operário igualmente em Lisboa (Rua David Lópes ao Alto de S. João). 

Por comum decisão dedicou-se a cuidar dos filhos e nas tarefas de casa. Apoiou a sua numerosa família de origem que desgraçadamente migrou para Lisboa onde viveram vários anos num bairro de lata em Chelas. Ao domingo era comum visitá-los e ainda hoje sinto o cheiro daquele espaço tão degradante, nos antípodas da minha vida. Sempre aceitámos aquelas pessoas e muito brinquei com os primos. Mais tarde foram todos alojados numa boa casa nos Olivais Sul, um bairro condigno criado pelo Estado Novo e ainda hoje um espaço urbanístico estudado devido à sua qualidade de origem. 

Uma mulher de família e para a família que brigou contra as dificuldades e nos deu os instrumentos necessários para sermos pessoas de proximidade com o outro, amigos da família, honestos nas decisões, genuínos no trato e com honra.

Alimentou-nos na Fé em Cristo, a âncora das nossas vidas.

Incapacitada devido à doença de Alzheimer e com um severo problema oncológico, visitei a minha mãe diariamente nos seus últimos dias de vida na Residência Sénior Jardim do Mar (Aroeira). Todos os dias nestes quase dois anos recebia a visita de um familiar. Rezei pedindo a Deus tranquilidade e Ele foi concedendo imensas Graças: o apoio dos Cuidados Paliativos do Hospital Garcia de Orta (em Almada) que foram ímpares nos conselhos humanizados e orientações junto da família e operacionais do lar; a forma amiga e profissional como as funcionárias do lar prestaram o serviço.

A nossa mãe partiu pelas 23:30h do dia 30 de novembro de 2018. O meu pai chamou-a…Não temos pais, enquanto presença física, mas ficou o legado do seu amor: dois filhos, genro e nora e cada casal com três filhos (ambos com duas raparigas sendo o terceiro um rapaz).

No dia do casamento.
Cesto com flores dos netos no dia do funeral.

Por, António Tadeu Costa

1 comentário:

pedro84 disse...

Uma senhora à D.Aurora familia fantastica unida e amiga Parabéns por serem assim