sábado, 26 de setembro de 2020

Do lixo para a boca!

Aguardava, e bem instalado, no meu carro que a minha filha conclui-se um assunto no Tribunal de Almada.

Aconteceu há dias.

Enquanto lia um livro, nessa espera, verifico que um homem (na casa dos 40 anos) se aproxima de um caixote de lixo, vulgo contentor, e reparo que está remexendo no lixo... Qual 'covid', para aquela pessoa não há microrganismos nocivos.

Entretanto observo que a pessoa leva a mão à boca e mastiga algo... Fiquei esmagado com o que vi.

Ao pensamento surge uma interrogação: o que faço?... O homem tem aspeto de um viciado em drogas, mas está vestido com uma t shirt, calça de ganga, calçando uns ténis - até está apresentável e cuidado.

A interrogação persegue-me, o que fazer?

Nesse instante o homem desaparece mas apercebo-me que desceu as escadas para uma rua contígua.

O meu carro está mal estacionado, contudo num impulso saio do mesmo e dirijo-me para a referida rua onde encontro a pobre pessoa de volta de outro contentor do lixo.

Aproximo-me e já perto daquele pobre homem pergunto: "O senhor tem fome"?... Ele fica surpreendido e de sorriso na face, com voz mansa, e olhar envergonhado diz-me: "Está-me a ver a fazer isto?" No mesmo instante em que lhe estendo a mão e lhe coloco dinheiro na mão... 

De seguida digo-lhe: "Vá comer, vá alimentar-se, por favor!" E o pobre homem com aqueles traços serenos agradece-me e diz: "Eu peço desculpa ao senhor por me estar a ver fazer isto!"... Desculpas que me pediu mais uma vez. Eu apenas lhe disse "por favor vá comer, não ande no lixo". E afastei-me, perturbado e esmagado emocionalmente na direção do meu carro.

Este facto não é isolado para mim. Outros ocorreram onde a humilhação humana se descreve com a dureza da vida.

Aquele pobre homem, no buraco mais fundo da existência humana, tem um gesto de misericórdia e até me pede desculpa.

Cristo Senhor Meu Deus tiveste junto a mim e eu não Te vi, mas quando me pediste 'desculpa' eu percebi que estavas perto de mim.

Uma lição de vida!

Por, António Tadeu Costa


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